Olhai os Lírios do Campo

 

 foto de Ernani Calazans em Araçuaí MG

Jesus dirigindo o seu olhar ao largo, exclama: olhai os lírios do campo! (Mt 6:28).

Mais do que simplesmente olhar, é preciso observar de forma investigativa, numa busca mais aprofundada, capaz de gerar reflexão e aprendizado. Essa foi a determinação de Jesus para todos nós.

Ao olhar encontramos beleza, sentimos o perfume, observamos a posição, as formas das flores etc.

O que pensar diante de tanta grandeza? Quanta sabedoria! Quanta Providência, lembrando que estamos em um planeta de provas e expiação!  

Como é possível brotar da terra escura, nada atrativa, desprezível, pisada por todos nós, tão maravilhoso esplendor?

Quanto cuidado com essa erva do campo que em breve será lançada ao forno!  O cuidado com o seu alimento diário, oferecendo os minerais do solo, a água da chuva, a energia do sol. Tudo em perfeita sincronia com a ordem e com o belo.

E Jesus continua nos conclamando a admirar os lírios, dizendo: como eles crescem!

O que Jesus, utilizando-se da natureza, está querendo nos ensinar com esse crescimento? Estaria fazendo uma analogia com o processo de Evolução, sempre pra cima, como as flores?

Honório de Abreu (2009) interpreta essa passagem dizendo que crescer é o objetivo fundamental do ser, procurando sua felicidade, com o pensamento no Criador.

Talvez tenhamos que aprender a crescer como os lírios, oferecendo beleza e perfume ao mundo, assim como eles o fazem!

Lembremos dos nossos antepassados, ainda primitivos. Eles olhavam para cima, levantavam seus braços e reverenciavam o invisível que acreditavam, estar lá, em algum lugar, entre as estrelas.

Aprendemos com Léon Denis (1995) que nossos irmãos tribais, ao atender ao instinto, estavam balbuciando em sua alma infantil, ensaiando-se para soletrar a linguagem divina e fixando ao seu estado mental, a concepção rudimentar, vaga e confusa de um ser superior

Sim, há um Ser superior a tudo isso, uma inteligência cósmica, suprema, que não só cria, mas provê tudo o que seja necessário ao crescimento de sua obra.

Jesus também aconselhava aos discípulos:– Não vos inquieteis por vossa vida, com o que comereis; nem por vosso corpo, com o que vestireis. Não é a vida mais que o alimento, e o corpo mais que a veste?

E assegurava-lhes:– vosso Pai celestial sabe que necessitais de todas estas coisas.

E ainda recomendava:– Buscai primeiramente o Reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas. A cada dia basta o seu mal. (Mt 6:25, 32, 33 e 34)

Não seria essa também a preocupação do Espírita? Buscar primeiro o reino e sua justiça, ou seja, as coisas do Espírito? Quando se escolhe dedicar às questões espirituais, o material é atendido, se a escolha é invertida, a dinâmica não será a mesma.

Outra passagem de Mateus emblemática em relação ao ‘ter’ e ‘ser’ encontra-se no capítulo 6:19:– Não entesoureis para vós tesouros sobre a Terra, onde a traça e a corrosão consomem, e onde os ladrões roubam. Mas, nos céus... Muito clara essa orientação dEle.

Cabe a cada um fazer a sua parte, sendo o melhor que se pode ser, em todas as situações, conforme o próprio Kardec orienta:

Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que emprega para domar suas inclinações más.”

Emmanuel, numa mensagem psicografia de Chico Xavier (2014), denominada ‘olhai os lírios’  comenta o versículo 6:28:

“Os lírios para se evidenciarem, esforçam-se com paciência, no próprio desenvolvimento, abstendo-se de agitações pela conquista de reservas desnecessárias com receio do futuro, por acreditarem instintivamente nos suprimentos da vida.” (grifo nosso)

“Os lírios não se preocupam em ser gerânios ou cravos e sim aceitam-se na configuração e na essência de que se viram formados, segundo os princípios da espécie. Não criticam as outras plantas, que lhe ocupam a vizinhança, deixando a cada uma o direito de serem elas mesmas, nas atividades que lhes dizem respeito à própria destinação.”

Sutilmente, Emmanuel está chamando a atenção para a questão de sermos nós mesmos, sem nos preocuparmos com a vida do outro, deixando cada um ser o que tiver condição de ser, usando de seu livre-arbítrio.

Continua Emmanuel: “Os lírios não indagam quanto à condição ou à posição daqueles a quem consigam prestar serviço, seja acrescentando beleza e perfume à Terra ou ornamentando festas ou colaborando no interesse das criaturas em valor de mercado.”

“Os lírios desabrocham e servem, no lugar em que foram situados pela Sabedoria divina, através das forças da natureza, ainda mesmo quando tragam as raízes mergulhadas no pântano.” (grifos nossos)

Podemos aprender com os lírios serenidade e aceitação, paz e trabalho, com as responsabilidades e privilégios do discernimento e da razão que uma simples flor ainda não tem. A flor ainda não possui a capacidade do raciocínio, mas está fazendo o trabalho dela.

Que possamos fazer parte do lirial divino, sendo o melhor que pudermos ser, na contribuição que pudermos dar a esse mundo de transição. Aprendamos com a natureza e façamos a nossa parte, em nome de Jesus.

REFERÊNCIA

ABREU, H. Onofre de Luz Imperecível: estudo interpretativo do Evangelho à luz da doutrina espírita 6. ed. Belo Horizonte, MG: UEM, 2009.

DENIS, L. O Problema do Ser, do Destino e da Dor 18. ed. Brasília, DF:FEB,1995.

DIAS, Haroldo D. (trad) O Novo Testamento Brasília, DF: FEB, 2013

KARDEC, A. O Evangelho Segundo o Espiritismo 131. ed.  Trad. Guillon Ribeiro, Brasília, DF: FEB, 2013.

SILVA, SAULO C. R. (coord.) O Evangelho por Emmanuel: comentários ao Evangelho segundo Mateus, Brasília, DF: FEB, 2014.

XAVIER, F. C. (Emmanuel) Fonte Viva 20. ed. Brasília, DF: FEB, 1995.

 

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